Nesta quinta-feira (24), o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, usou seu Twitter para fazer um post em que sugere que o Greenpeace estaria “navegando em águas internacionais em frente ao litoral brasileiro” na época em que houve o “derramamento de óleo venezuelano”.
Tem umas coincidências na vida né… Parece que o navio do #greenpixe estava justamente navegando em águas internacionais, em frente ao litoral brasileiro bem na época do derramamento de óleo venezuelano… pic.twitter.com/ebCoOPhkXJ
— Ricardo Salles MMA (@rsallesmma) October 24, 2019
Das três embarcações do Greenpeace, duas estão no Atlântico Sul. Uma delas, a Esperanza, de fato passou pela costa do Nordeste brasileiro. A viagem, no entanto, é posterior à descoberta de petróleo no litoral. Além disso, ao contrário do que diz o ministro, a maior parte do trajeto foi feito dentro da Zona Econômica Exclusiva brasileira – faixa de 200 milhas náuticas (370,4 quilômetros) sobre a qual o país tem prioridade de exploração econômica – e não em águas internacionais (ou alto-mar).
Após a fala do Ministro, o Greepeace saiu em sua defesa e disse que o Esperanza chegou ao Nordeste brasileiro no dia 8 de outubro de 2019, quando passou pela costa do Maranhão. Por outro lado, o primeiro registro de petróleo em praias brasileiras ocorreu em 30 de agosto, nas praias de Pitimbu e do Conde, ambas na Paraíba. Na época, o Esperanza estava na Guiana Francesa, a mais de 2,5 mil quilômetros de distância.
O navio Esperanza deixou o Nordeste no dia 17 de outubro. O último registro da embarcação na região foi feito a cerca de 100 quilômetros do arquipélago de Abrolhos, no sul da Bahia. Atualmente, o navio está em Montevidéu, no Uruguai, em deslocamento para Buenos Aires, na Argentina.
Além disso, o Esperanza é uma embarcação relativamente pequena, se comparada, por exemplo, a um navio petroleiro. Sua carga máxima é de apenas 425 toneladas. Isso equivale a menos da metade do petróleo removido até o dia 21 de outubro – 900 toneladas, segundo a Marinha.
Vale destacar, ainda, que a foto publicada por Salles é de 2016 e mostra o navio Esperanza no Oceano Índico em uma ação de combate a pesca abundante de atum. Naquele ano, o Greenpeace divulgou um vídeo em seu canal do YouTube sobre a operação.
O Greenpeace informou nesta quinta-feira (25), que vai à Justiça contra Ricardo Salles pelas declarações publicadas em seu perfil no Twitter. Em nota, o Greenpeace afirma que tomarão “todas medidas legais cabíveis contra todas as declarações do ministro Ricardo Salles. As autoridades têm que assumir responsabilidade e responder pelo Estado de Direito pelos seus atos.”