Em um dos momentos mais aguardados do processo que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro foi interrogado nesta terça-feira (10/6) pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). O depoimento foi conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes e faz parte da ação penal que apura se Bolsonaro e aliados articularam uma trama para mantê-lo no poder após a derrota nas eleições de 2022.
Logo no início do interrogatório, Bolsonaro tentou quebrar o clima tenso com uma piada: convidou Moraes para ser seu vice em 2026, arrancando risos da plateia e uma resposta seca do ministro: “Declino”. Em seguida, o ex-presidente negou qualquer envolvimento em plano golpista e reiterou que sempre atuou “dentro das quatro linhas da Constituição”.
O ex-mandatário reforçou sua conhecida crítica ao sistema eleitoral, afirmando que sempre defendeu o voto impresso e citou o ministro Flávio Dino como alguém que também já questionou as urnas eletrônicas no passado. Bolsonaro também reclamou de supostas restrições impostas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) durante a campanha de 2022, alegando que foi impedido de divulgar conteúdos negativos sobre Lula (PT) e positivos sobre si mesmo.
Sobre a polêmica reunião ministerial de julho de 2022, onde criticou ministros do STF e TSE, Bolsonaro pediu desculpas, dizendo que se tratava de um “desabafo” e que não tinha intenção de acusar os magistrados de conduta imprópria.
Um dos pontos mais sensíveis do interrogatório envolveu a chamada “minuta golpista”. Segundo o ex-ajudante de ordens Mauro Cid, Bolsonaro teria “enxugado” o documento, mantendo apenas a prisão de Alexandre de Moraes. Bolsonaro negou categoricamente essa versão: “Não procede o enxugamento”.
O ex-presidente também aproveitou para listar realizações de seu governo e relembrar sua trajetória política, adotando um tom eleitoral. Ele é um dos oito réus acusados de crimes como tentativa de golpe, organização criminosa armada e abolição violenta do Estado Democrático de Direito. O julgamento está previsto para o segundo semestre e pode resultar em penas superiores a 30 anos de prisão.