Quase dois anos após o trágico ataque à Escola Estadual Sapopemba, na zona Leste de São Paulo — que resultou na morte de uma adolescente e deixou outros três estudantes feridos — a plataforma Discord ainda não forneceu à Polícia Civil as mensagens trocadas no grupo onde o atentado foi planejado. O caso, que causou comoção nacional, segue com investigações travadas pela ausência de cooperação efetiva da empresa americana.
O autor do ataque, um adolescente de 16 anos, revelou seus planos em um grupo do Discord, onde compartilhou imagens da escola, pediu dicas de como registrar o ato e recebeu incentivo e instruções. Prints dessas conversas foram obtidos pelos investigadores, mas o conteúdo completo permanece inacessível. As autoridades brasileiras, mesmo após seguirem todos os trâmites exigidos pela empresa — incluindo cadastro na plataforma Kodex, envio de e-mails e comunicação direta com representantes do Discord — não conseguiram acesso aos dados.
Em dezembro de 2023, uma decisão judicial autorizou a quebra de sigilo das conversas. Ainda assim, a empresa não cumpriu a ordem, alegando que os pedidos deveriam ser feitos exclusivamente pela plataforma Kodex. A última tentativa da Polícia Civil foi feita em março deste ano, sem sucesso.
A ausência das mensagens compromete a identificação de outros envolvidos no planejamento do crime. Apesar de indícios de que outros membros do grupo sabiam e até ajudaram o atirador, apenas ele foi apreendido no Brasil, cumprindo medida socioeducativa na Fundação Casa. Em Portugal, outro adolescente, apontado como criador do grupo, foi preso e denunciado à Justiça.
A Polícia Civil de São Paulo encaminhou o inquérito à Justiça sugerindo que a investigação siga com a Polícia Federal. Em nota, o Discord afirma colaborar com as autoridades brasileiras e portuguesas, alegando que a segurança é prioridade e que mantém diálogo com o sistema judiciário do Brasil.
O caso levanta questionamentos sobre a responsabilidade das plataformas digitais em crimes violentos e o impacto da burocracia internacional na busca por justiça.