Aos 75 anos, Arno Dalmônico voltou à rua onde viveu em situação de rua por mais de três anos, na cidade de Sorocaba (SP), após um desentendimento com a Ordem Salesiana em 1994. Décadas depois, ele afirma não guardar mágoas e diz que o período foi uma lição de fé, que fortaleceu sua vocação e gerou conquistas espirituais.
“Eu vim pra cá indicado pelos meus superiores em 1987. Aí, vivi aqui até 1994. Houve um pequeno desentendimento entre o diretor e eu, e fui me afastando da comunidade salesiana por motivos diversos. Mas desde aquela ocasião, até hoje, tudo que me aconteceu eu faria questão de continuar repetindo. Todos os momentos foram felizes, antes e depois do Salesiano”, disse.
++ O herói improvável que salvou 165 vidas em sua primeira missão nas enchentes do Texas
Segundo reportagens da época, o desentendimento teria sido motivado por uma transferência para outra cidade, comum entre padres, mas que Arno não aceitou. Muito conhecido na cidade, ele passou a viver na calçada ao lado da paróquia onde atuava.
“Eu queria descobrir o que estava acontecendo comigo. Aquele momento, então, assumi que o que Deus faz na minha vida não é para o meu mal, é para evitar coisas piores. Foi um momento difícil”, relembrou.
Mesmo com as dificuldades, ele afirma que nunca passou necessidades: “O povo me ajudou sempre. Tanto aqueles que me apoiaram, quanto aos demais, eu sempre os amei e continuo amando. Não tenho raiva de ninguém. Pelo contrário. Tenho gratidão. A gratidão, para aqueles que me ajudaram, ou mesmo para aqueles que me fizeram entrar nessa provação, a gratidão é grande, e que Deus os abençoe, hoje e sempre”.
++ Andrea Beltrão revela ser ateia e diz não sofrer ataques por estar fora das redes sociais
Arno é advogado, professor, filósofo, sociólogo e padre. Tem sete profissões, mas diz que atender os mais pobres é prioridade: “Eu era da roça e tive oportunidade de estudar, me esforcei. Eu tive a sorte de ser um professor, mas não só isso, não ser padre, ser advogado. Tenho sete profissões e como advogado, atendo os pobres que não têm condições de pagar”.
Apesar do passado difícil, ele diz que nunca deixou a vocação de lado. “Mais do que nunca. Agora, eu atendo as pessoas onde elas estão, onde elas me chamarem. Como padre, sempre atendo, nos hospitais, nas casas, em casamentos, em batizados. Sempre fiz isso. Nenhum religioso e nenhum bispo mandou eu parar. Não tenho mente nenhuma em desistir. Sou padre até o último dia da minha vida”, afirmou.
Hoje, Arno se dedica a ações sociais em Sorocaba e acorda diariamente para distribuir alimentos a pessoas em situação de vulnerabilidade. Ele diz que a vitalidade vem da fé. “O segredo é muito interessante. Na bíblia diz que os apóstolos seguiram a Jesus: mostra-nos o pai. E Jesus deu essa resposta: quem me vê, vê o pai. E eu me vejo assim no espelho. Quem me vê, vê Deus. Não que eu seja mais do que isso, mas dentro de mim, age um Deus. Como ele age em mim? Eu sempre penso em coisa positiva. Sou feliz, sou rico, sou saudável. E isso me dá toda essa vitalidade. Ao invés de eu pensar nos 75, eu falo: ‘tenho 40 anos’”, declarou.
Aposentado da docência desde fevereiro, Arno mantém uma relação tranquila com a comunidade salesiana e afirma que todo o passado o orgulha. “Cresci bastante pelo acaso daquela provação. Graças a Deus, todo o passado me deixa orgulhoso, me deixa cheio de alegria”, finalizou.
Não deixe de curtir nossa página no Facebook , no Twitter e também no Instagram para mais notícias do PaiPee .