
Em 1985, o químico nuclear Galen Winsor chocou o mundo ao ingerir urânio diante das câmeras, numa tentativa de provar que os riscos do elemento radioativo eram exagerados. Com vasta experiência no manuseio de materiais nucleares, como o plutônio, Winsor queria demonstrar que o medo em torno da radiação era, em parte, infundado. O mais surpreendente é que ele viveu mais 23 anos após o episódio, falecendo em 2008, aos 82 anos.
A causa exata de sua morte nunca foi divulgada, o que impede qualquer ligação direta com a ingestão do urânio. No entanto, a ciência atual permite avaliar os riscos reais do contato com esse elemento. Diferente do que muitos pensam, o maior perigo do urânio não está na sua radioatividade, mas na sua toxicidade química — sobretudo para os rins. Estudos com humanos expostos ocupacionalmente e com animais de laboratório mostram que a ingestão ou inalação de compostos solúveis de urânio pode causar danos renais significativos.
A forma como o urânio entra no organismo também influencia nos efeitos. Compostos solúveis ingeridos representam um risco maior para os rins, enquanto compostos insolúveis inalados afetam principalmente os pulmões. Curiosamente, não há evidências consistentes de outros efeitos à saúde em humanos, mesmo em casos extremos, como o de veteranos com fragmentos de urânio metálico alojados no corpo.
Experimentos com ratos indicam possíveis alterações comportamentais e químicas no cérebro após ingestão prolongada, além de indícios de redução na fertilidade. No entanto, esses dados não são conclusivos para humanos. Aplicações tópicas em animais também causaram apenas irritações leves.
O caso de Winsor continua sendo uma curiosidade científica. Embora sua longevidade sugira que pequenas quantidades de urânio talvez não sejam imediatamente fatais, especialistas alertam: o urânio é quimicamente tóxico e não deve ser ingerido sob nenhuma circunstância. O episódio serve mais como ponto de partida para discussões sobre percepção de risco e toxicologia do que como prova da inofensividade do elemento.