Internado há 25 anos no Hospital Dom Pedro II, na Zona Norte de São Paulo, o paulista Cleyton Cipriano Pinto, de 44 anos, voltou a estudar após receber um dispositivo que permite controlar o computador com movimentos da cabeça e ganhar uma bolsa integral para cursar graduação a distância. Tetraplégico desde 1999, ele inicia a faculdade de empreendedorismo digital na Universidade Guarulhos.
O equipamento foi desenvolvido pelo Laboratório de Inovações Acadêmicas, no projeto Mãos Livres, do Programa EAD Social do Grupo Ser Educacional. Acoplada à lateral dos óculos, a peça tem sensores de movimento e proximidade, possibilitando mover o cursor e clicar sem o uso das mãos. Produzido em três meses e impresso em 3D, o dispositivo permite que Cleyton navegue, escreva e se comunique sem precisar de auxílio para operar o computador.
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“Tenho 25 anos aqui dentro e sou bem pré-histórico, como costumo dizer. Ter a oportunidade de ter um aparelho como esse é literalmente uma virada para a vida de um tetraplégico. Um aparelho como esse traz uma liberdade que só mesmo a tecnologia pode nos fornecer”, disse ao G1. Para ele, a ferramenta também significa interação social: conversar com amigos, expressar sentimentos e participar de videochamadas.
Cleyton perdeu os movimentos dos braços e pernas ao ser baleado em 1999, quando tentou apartar uma discussão. O tiro atingiu a vértebra C5. Após alguns meses em casa com a mãe e a irmã, optou por viver no hospital para receber cuidados contínuos.
Para ocupar o tempo e manter a mente ativa, buscou nos estudos uma forma de conquistar autonomia. Improvisou adaptadores e chegou a usar hastes de madeira para mexer no computador. Com esse método, escreveu um livro autobiográfico, letra por letra, com um lápis preso à boca, trabalho que levou mais de dez anos. Antes, cursou dois semestres de Direito e participou de uma aceleradora inclusiva de programação, mas interrompeu por questões de saúde e falta de recursos.
Agora, com a nova tecnologia e a bolsa de estudos, Cleyton quer concluir a graduação e trabalhar para custear o tratamento. “Hoje a vida de um tetraplégico custa em média de R$ 15 mil a R$ 20 mil por mês. O custo é alto. Uma cadeira de rodas simples custa cerca de R$ 25 mil. Uma cadeira de rodas que realmente comporte a gente da melhor maneira possível chega a custar R$ 20 mil. A gente vive ganhando um salário mínimo. É impossível conseguir alcançar esses objetivos ganhando tão pouco”, afirmou.
“Eu resolvi me apegar ao conhecimento das coisas para que, de certa forma, eu consiga alcançar a liberdade, que é o que eu tanto busco. É o que eu venho buscando durante todos esses anos: sair daqui e conseguir ter uma vida social, uma vida readaptável e total lá fora. Esse é meu sonho”, concluiu.
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