Em 2022, a chegada da internet via satélite Starlink à remota tribo Marubo, situada no coração da Amazônia brasileira, marcou uma transformação histórica. Pela primeira vez, cerca de duas mil pessoas tiveram acesso instantâneo ao mundo digital. Inicialmente, a novidade foi recebida com entusiasmo: chamadas de vídeo entre aldeias, acesso a informações e recursos educacionais passaram a fazer parte do cotidiano.
No entanto, com os benefícios vieram também desafios. Líderes e anciãos observaram mudanças no comportamento, principalmente entre os jovens, que passaram a dedicar longas horas aos smartphones e aplicativos como WhatsApp. A comunicação tradicional e os rituais comunitários começaram a ser deixados de lado. Em resposta, as aldeias estabeleceram limites de uso da internet, com horários específicos para conexão, numa tentativa de equilibrar tradição e modernidade.
A situação ganhou repercussão internacional após reportagens sugerirem que a tribo teria desenvolvido um vício em videos contendo intimidades. As alegações provocaram indignação entre os Marubo. Em resposta, o líder Enoque Marubo gravou um vídeo rebatendo as acusações, classificando-as como falsas, ofensivas e desrespeitosas. Ele denunciou a forma como a mídia destacou aspectos negativos, ignorando os benefícios concretos trazidos pela conectividade.
Enoque ressaltou que a internet tem sido vital em emergências médicas e no fortalecimento da educação nas aldeias. Além disso, destacou que a ferramenta permite aos Marubo contar suas próprias histórias, sem a distorção de intermediários. Ele reafirmou o direito do povo à autodeterminação, defendendo que cabe à própria comunidade decidir como integrar a tecnologia à sua cultura.
A experiência dos Marubo ilustra o impacto complexo da tecnologia em comunidades indígenas: ao mesmo tempo em que oferece oportunidades, também exige cuidados para preservar valores ancestrais. Para os Marubo, a internet representa um novo território a ser navegado com sabedoria e autonomia.