O Brasil tem se tornado peça-chave na disputa geopolítica por minerais críticos, essenciais para tecnologias verdes e militares. Empresas estatais chinesas intensificaram sua presença no setor mineral brasileiro, com investimentos que já ultrapassam bilhões de dólares.
Em 2024, a venda de minas de níquel da Anglo American para a MMG, ligada à estatal chinesa China Minmetals, por US$ 500 milhões, resultou no controle chinês de cerca de 60% da produção nacional do metal. A transação gerou controvérsia: o INCRA abriu investigação sobre a legalidade da venda de terras a estrangeiros, e a empresa turca Corex Holding, que ofereceu quase o dobro do valor, denunciou o caso ao CADE e à Comissão Europeia, alegando ameaça à concorrência e à segurança do abastecimento europeu.
Além do níquel, a China tem adquirido ativos de estanho, nióbio, tântalo, cobre e lítio em estados como Amazonas, Alagoas e Minas Gerais. A BYD, por exemplo, garantiu direitos de exploração no chamado “Vale do Lítio”, e a CATL, maior fabricante de baterias do mundo, negocia com o governo brasileiro para integrar a cadeia nacional de mobilidade elétrica.
A disputa se intensifica com minerais ainda mais estratégicos, como gálio e germânio — cruciais para semicondutores e sistemas militares —, cuja produção global é quase totalmente dominada pela China. O Brasil possui reservas, mas enfrenta desafios como falta de infraestrutura e mapeamento geológico.
A crescente influência chinesa ocorre em meio a tensões diplomáticas. Recentemente, o Brasil sinalizou abertura para cooperação militar com a China, gerando desconforto em Washington, especialmente após o cancelamento de exercícios conjuntos com os EUA. O presidente Donald Trump e setores industriais americanos têm pressionado por uma resposta mais firme à expansão chinesa.
Apesar da importância dos minerais críticos, o Brasil ainda não possui uma política nacional voltada ao tema. Apenas 27% do território foi mapeado geologicamente, e novas descobertas, como um complexo mineral em Roraima, mostram o potencial inexplorado do país. O governo planeja apresentar uma proposta estratégica durante a COP30, buscando aliar soberania mineral à transição energética.