
A expressão “pulmão de pipoca” surgiu nos Estados Unidos no início dos anos 2000, quando operários de fábricas de pipoca para micro-ondas começaram a apresentar bronquiolite obliterante, uma condição respiratória rara. A enfermidade causa inflamação e cicatrização nos bronquíolos, dificultando a respiração. Atualmente, o problema volta a preocupar autoridades de saúde em diversos países, inclusive no Brasil, devido ao aumento do uso de cigarros eletrônicos.
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O nome popular da doença está relacionado ao diacetil, um aromatizante com gosto de manteiga utilizado em pipocas industrializadas. A exposição prolongada a esse composto por inalação foi associada aos danos pulmonares nos trabalhadores. Embora o consumo oral não apresente o mesmo risco, estudos indicam que a inalação pode causar cicatrizes permanentes nas vias respiratórias.
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Análises recentes de líquidos usados em cigarros eletrônicos identificaram a presença de diacetil e substâncias similares, como a 2,3-pentanodiona, em diferentes concentrações. Aromas doces como baunilha, manga e algodão-doce são os mais frequentemente associados a esses compostos. A inalação contínua pode causar danos semelhantes aos observados em ambientes industriais.
No Brasil, apesar da proibição da venda, importação e propaganda de cigarros eletrônicos pela Anvisa desde 2009, reforçada em abril de 2024, esses produtos ainda circulam ilegalmente. Dados do Vigitel 2023 indicam que 2,1% dos adultos brasileiros utilizam esses dispositivos, sendo a maior parte jovens entre 18 e 24 anos. A Sociedade Brasileira de Pneumologia alerta sobre os riscos desconhecidos das substâncias presentes nos líquidos saborizados.
O pneumologista Ricardo Meirelles ressalta que os pulmões humanos não são preparados para absorver substâncias químicas aquecidas, e que os danos causados por isso podem ser irreversíveis. Entre os sintomas da bronquiolite obliterante estão tosse seca, chiado no peito, falta de ar e fadiga extrema. Em casos graves, o transplante pulmonar pode ser necessário.
É fundamental distinguir essa doença da EVALI, uma síndrome aguda associada ao uso de vaporizadores que ganhou destaque em 2019. Enquanto a EVALI se manifesta de forma rápida, a bronquiolite obliterante se desenvolve lentamente. Especialistas alertam que, devido à falta de controle nos produtos ilegais, ambas podem ocorrer simultaneamente.
Como ainda não existe cura para a bronquiolite obliterante, evitar o contato com substâncias perigosas é a principal forma de prevenção. A crescente adesão ao uso de cigarro eletrônico entre jovens e a ausência de fiscalização rigorosa tornam essa uma questão urgente para a saúde pública brasileira.