Na manhã desta terça-feira (2), um vídeo que circula nas redes sociais provocou horror e indignação em todo o país: um homem suspeito de roubo foi rendido por uma multidão, espancado, despido e queimado vivo antes mesmo da chegada das autoridades. O registro do crime brutal reacende o debate sobre justiça com as próprias mãos e os limites da barbárie.
Segundo versões que circulam nas redes, a vítima teria sido surpreendida tentando furtar uma residência ou comércio local. O criminoso também teria abusado de uma criança de paenas 1 ano de idade e de sua mãe. Imagens mostram moradores revoltados o capturando nas ruas, imobilizando-o e iniciando as agressões — chutes, socos e violência física: a vítima foi amarrada, colocada no chão, teve parte da roupa retirada e sofreu queimaduras com objetos inflamáveis, tudo diante de gente filmando.
A Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) prendeu quatro pessoas suspeitas de linchar um homem até a morte, que era acusado de estupro, na cidade de Jutaí, localizada no interior do estado. As prisões ocorreram na quinta-feira (21/11).
Testemunhas relatam pânico e gritos de “ladrão” ecoando entre os presentes. Mesmo com a chance de deixar a justiça agir, o grupo decidiu punir por conta própria — ignorando qualquer presunção de inocência ou o direito à defesa. Alguns vídeos mostram, posteriormente, o estado da vítima, que estaria gravemente ferida e com queimaduras graves, além de risco de vida.
Organizações de direitos humanos e advogados já condenaram o ato, classificando-o como crime de tortura e tentativa — ou mesmo consumação — de homicídio. Eles ressaltam que, independentemente da acusação, ninguém tem o direito de se tornar juiz, júri e carrasco. A justiça não pode ser feita na base da violência coletiva e do espetáculo.
Casos como este reacendem alertas sobre o crescimento de linchamentos e “justiça com as próprias mãos” em várias regiões do Brasil e do mundo — especialmente em contextos de insatisfação com a criminalidade e falhas na segurança pública. Especialistas afirmam que essas ações são disfuncionais, perigosas e muitas vezes ceifam vidas injustamente.
O homem morto, que tinha 48 anos, foi detido sob a suspeita de ter estuprado e assassinado uma criança de apenas 1 ano. O linchamento aconteceu em setembro deste ano, quando ele foi retirado à força da delegacia por moradores, agredido e queimado ainda vivo.
Segundo a delegada Mariane Menezes, da 56ª Delegacia Interativa de Polícia (DIP) de Jutaí, as investigações relacionadas ao crime de estupro de vulnerável começaram após o suposto desaparecimento da criança, conforme relato de sua mãe. Ela declarou que a criança foi vista pela última vez no dia 17 de setembro, enquanto dormia em um flutuante no porto de Jutaí.
Enquanto a polícia investiga a identidade da vítima e tenta punir os agressores, a sociedade se divide entre revolta, medo e vergonha. Será que, diante da insegurança, estamos perdendo nossos valores — substituindo a lei por vingança pública? Esse episódio brutal deixa marcas profundas: não só na vítima, mas na consciência coletiva.

