A imagem da “menina afegã”, capturada por Steve McCurry em 1984, tornou-se um dos retratos mais icônicos do século XX após estampar a capa da revista National Geographic. A jovem de olhos verdes penetrantes é Sharbat Gula, que na época tinha apenas 12 anos e vivia em um campo de refugiados no Paquistão, fugindo da guerra no Afeganistão.
A história por trás da imagem é marcada por dor e resiliência. Órfã de mãe desde os oito anos, Sharbat se casou aos 13, teve filhos e enfrentou perdas devastadoras, como a morte de uma filha recém-nascida, do marido e de outra filha, ambos vítimas de hepatite C. Em 2016, foi presa no Paquistão por supostamente usar documentos falsos, episódio que descreveu como o pior de sua vida.
Desiludida com o tratamento recebido após décadas como refugiada, ela decidiu retornar ao Afeganistão, onde foi recebida pelo então presidente Ashraf Ghani, que lhe concedeu um apartamento. No entanto, com a volta do Talibã ao poder em 2021, Sharbat teve de fugir novamente. Desta vez, encontrou asilo político na Itália, onde passou a viver com os filhos.
Em entrevista ao jornal italiano La Repubblica, Sharbat revelou sentimentos ambíguos sobre a foto que a tornou famosa. Inicialmente, lamentou que ela tivesse sido tirada, pois, segundo a cultura afegã, mulheres não devem ser fotografadas. Contudo, com o tempo, reconheceu o impacto positivo da imagem na conscientização global sobre a situação dos refugiados.
Na Itália, encontrou liberdade e oportunidades antes inimagináveis, especialmente no que diz respeito à educação de suas filhas — uma delas sonha em ser médica. A revelação dos detalhes de sua vida emocionou o mundo, que passou a ver além da imagem congelada no tempo, reconhecendo sua força diante de décadas de sofrimento.
Sharbat Gula, agora com mais de 50 anos, representa não apenas a dor dos refugiados, mas também a esperança de reconstrução e dignidade. Sua jornada, do anonimato à notoriedade e, por fim, à liberdade, é um símbolo silencioso da luta humana por um futuro melhor.