Oscar 2020 recebe críticas por falta de representatividade

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Na última noite de domingo (9), no início da cerimônia do Oscar em Hollywood, logo as primeiras estrelas a subir no palco decidiram falar sobre a questão mais desconfortável da noite: a falta de diversidade do Oscar.”É hora de aparecer”, cantou Janelle Monáe na apresentação de abertura da premiação, “porque o Oscar é muito branco”.

A artista se apresentou junto com dançarinos vestidos como os personagens dos filmes ignorados pela academia e estrelados por negros, como “Queen & Slim”, “Nós” e “Meu Nome é Dolemite!”, com Eddie Murphy. Confira:

Em seguida, a dupla Chris Rock e Steve Martin usaram a comédia para apontar alguns detalhes. “Cynthia fez um trabalho tão bom ao esconder os negros em ‘Harriet’, que a Academia decidiu que ela deveria esconder todos os negros que foram indicados aqui também”, brincou Rock. “Cynthia, você escondeu o Eddie Murphy embaixo do palco?”

Já Steve Martin continuou a série de piadas. “Chris, pense no quanto o Oscar mudou nos últimos 92 anos”, brincou Martin. “Em 1929 não havia uma única pessoa negra indicada nas categorias de atuação. Agora, em 2020, temos uma”. Os dois também chamaram atenção para o fato de que não houve uma única mulher indicada na categoria de direção neste ano, mesmo motivo que fez Natalie Portman usar uma capa com os nomes de todas as mulheres ignoradas pela premiação.

Além disso, a questão da diversidade também foi abordada em outros momentos da premiação. Ao cantar “Into The Unknown” de Frozen 2, Idina Menzel esteve com a presença de outras atrizes internacionais que dublaram a Elsa em seus respectivos países.Assista:

O ator Utkarsh Ambudkar, junto ao músico Questlove, se apresentou e cantou um rap sobre o que havia acontecido na cerimônia até então:”Estou aqui para recapitular a premiação e ser Mestre de Cerimônias de um monte de indicados que não se parecem nem um pouco comigo.”

Inclusive, muitos dos vencedores da noite ressaltaram os problemas de diversidade em seus discursos. A curta de animação “Hair Love” foi anunciado como o vencedor da categoria, sendo assim, a produtora Karen Rupert Toliver aproveitou a ocasião para argumentar sobre a importância da representatividade. “Acreditamos profundamente que a representatividade importa, em especial nos desenhos animados”, disse.

Produções lideradas por mulheres 

De acordo com um estudo da Universidade do Sul da Califórnia comandado por Stacy L. Smith (pesquisadora importante sobre diversidade e igualdade de gênero no entretenimento), 10,6% das produções que mais arrecadaram foram dirigidas por mulheres. Porém, o número ainda é baixo, mesmo não deixando de ser um grande avanço se considerar que no ano anterior, 2018, essa porcentagem era de apenas 4,5%.

Nos rankings de sites de crítica cinematográfica, os filmes dirigidos por mulheres foram melhor avaliados que os por homens. Por exemplo,  no Rotten Tomatoes, os indicados Era Uma Vez Em…Hollywood, Coringa e 1917 receberam notas 7,8, 7,2 e 8,4, respectivamente. Por outro lado, Adoráveis Mulheres (indicado somente na categoria de melhor filme), A Despedida e Um Lindo Dia na Vizinhança pontuaram em 8,6, 8,5 e 8,1.

“Categorizo 2019 como o ano em que as mulheres finalmente foram reconhecidas por sua direção na indústria de entretenimento, mas não foi permitido que fossem consagradas por essas conquistas”, disse Smith em entrevista à revista especializada em cinema Variety.

As mulheres não foram as únicas esnobadas nas indicações da Academia, com exceção de Cynthia Erivo, indicada na categoria de melhor atriz por seu papel em Harriet, os atores negros também foram deixados de lado. Os internautas sentiram a ausência de Lupita Nyong por seu papel em Nós.

Em seus quase 100 anos de existência, somente cinco mulheres concorreram na categoria de melhor direção, com uma única vencedora, a Kathryn Bigelow, em 2010. Em 2015, a indignação com a falta de indicados negros deu origem à campanha #OscarsSoWhite (“Oscar é branco demais”),  atualizada para #OscarsSoWhitePart2 (“Oscar é branco demais parte 2”) e #OscarsSoWhiteAndWithMoreMen (“Oscar é branco demais e tem mais homens”).

Em 2026,  outro estudo comandado pela professora Smith, analisou mais de 21 mil personagens de 400 filmes e séries entre 2014 e 2015. A pesquisa constatou que somente 33,5% dos papéis com falas eram de mulheres, e apenas 28,3% de pessoas não brancas.

O poder da estatueta
Pode parecer bobagem cobrar representatividade em uma premiação entre tantas outras, inclusive em uma indústria já marcada pela falta de diversidade. Porém, nenhum outro prêmio tem tanto impacto quanto o da Academia.

Mais da metade do lucro com as bilheterias de um filme indicado ao Oscar vem depois da indicação. Em 2014, 90,4% do lucro de Sniper Americano veio depois da indicação ao prêmio, do qual não saiu vencedor, por exemplo. Por isso, é graças ao Oscar que filmes como o sul-coreano Parasita, ganharam visibilidade comercial.

Inclusão social

Com pequenos avanços ao longo da história da premiação, o ator Zack Gottstagen foi o primeiro apresentador com Síndrome de Down a entregar um prêmio nas 92 edições da cerimônia. Ele entregou o troféu de Melhor Curta-Metragem ao lado de Shia LeBeouf, com quem contracenou no longa The Peanut Butter Falcon (via THR).

O que não agradou os expectadores foi a atitude de Shia LaBeouf com o colega. Zach se atrapalhou um pouco na abertura do envelope e o colega ri (supostamente de forma irônica), além de não deixá-lo anunciar o vencedor “The Neighbor’s Window”, falando antes que Gottshagen pudesse se pronunciar. Assista:

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