
Uma mulher de 52 anos, residente nos Países Baixos, viveu toda a sua vida enxergando dragões no lugar de rostos humanos, devido a uma condição neurológica raríssima chamada prosopometamorfopsia. Desde a infância, ela via faces deformadas com escamas, olhos brilhantes e focinhos, acreditando que todos viam o mundo da mesma forma. Apenas na adolescência percebeu que sua percepção era única.
Apesar das alucinações visuais — que incluíam também sombras, insetos gigantes e rostos em superfícies inanimadas —, ela conseguiu levar uma vida funcional, formando-se, constituindo família e trabalhando como administradora escolar. O contato visual, no entanto, sempre foi exaustivo.
Aos 52 anos, decidiu buscar ajuda médica em Haia. Exames iniciais não apontaram anormalidades, mas uma ressonância magnética revelou lesões na substância branca próxima ao núcleo lentiforme — área ligada ao reconhecimento facial, atenção e memória. Com base nisso, foi diagnosticada com prosopometamorfopsia, geralmente associada a enxaquecas, epilepsia ou traumas, mas, no caso dela, presente desde o nascimento.
Especialistas acreditam que o distúrbio tenha origem em uma falta de oxigênio durante o parto, afetando o desenvolvimento da região visual do cérebro. O caso chamou a atenção do renomado neurologista Oliver Sacks e foi publicado na revista científica The Lancet, contribuindo para o conhecimento médico sobre a condição.
O tratamento começou com ácido valpróico, que reduziu as alucinações, mas causou efeitos colaterais. Em seguida, foi administrada rivastigmina, usada em casos de demência, com resultados promissores: os dragões deixaram de dominar sua visão. Hoje, ela continua trabalhando, e embora as deformações ainda surjam ocasionalmente, sua intensidade é significativamente menor.
O caso destaca como pequenas lesões cerebrais podem alterar profundamente a percepção da realidade, e como o diagnóstico correto pode transformar vidas mesmo após décadas de sofrimento silencioso.