As imagens que circulam nas redes sociais — incluindo a foto devastadora de Nsala, um pai congolês olhando para o pé e o braço decepados de sua filha de apenas cinco anos — são um dos registros mais brutais da era colonial. Elas documentam o terror instaurado no Estado Livre do Congo, domínio pessoal do rei belga Leopoldo II, onde milhões de africanos foram escravizados, torturados e mortos para sustentar a lucrativa indústria da borracha no final do século XIX e início do XX.
Sob o governo de Leopoldo II, qualquer aldeia que não cumprisse as cotas de coleta de borracha sofria punições atrozes. A mais comum? Amputação de mãos, braços e pés — muitas vezes em crianças — como forma de “provar” que os soldados não desperdiçavam balas. Relatórios históricos mostram que a mutilação era usada como terror psicológico para forçar famílias inteiras a trabalhar sem descanso.
Nas fotografias, homens e crianças aparecem mutilados, exibindo braços ausentes e mãos cortadas, acompanhados de soldados coloniais. Essas imagens foram tiradas por missionários e investigadores que chegavam ao Congo e ficavam horrorizados com a crueldade do regime. Elas acabaram se tornando provas essenciais para expor ao mundo a verdadeira face do domínio belga.
A partir de 1904, o diplomata britânico Roger Casement e o jornalista irlandês Edmund Dene Morel lideraram uma campanha internacional denunciando massacres, escravidão, estupros, execuções arbitrárias e fome generalizada. Seus relatórios revelaram práticas sistemáticas de terror — incluindo o caso de um oficial belga acusado de matar 122 congoleses sozinho, apenas para “dar exemplo”.
Estima-se que o regime de Leopoldo II tenha causado a morte de 10 milhões de pessoas, entre assassinatos, doenças, torturas, amputações e fome imposta. A magnitude do genocídio — frequentemente omitida dos livros de história europeus — fez com que o Estado Livre do Congo se tornasse um dos capítulos mais sombrios já registrados da humanidade.
Hoje, as fotos de Nsala e de tantas outras vítimas sobrevivem como documentos poderosos. Elas lembram ao mundo que o colonialismo europeu não foi apenas exploração econômica — foi um sistema de violência inimaginável que deixou marcas profundas e permanentes na África. Ignorar esse passado não é uma opção: a memória dessas vítimas é um dever histórico.

