A análise de quase 180 milhões de vagas de emprego no mundo revelou um panorama surpreendente sobre como diferentes carreiras estão reagindo ao avanço acelerado da inteligência artificial. O estudo foi conduzido por Henley Wing Chiu, CTO das empresas Revealera e Bloomberry, especializadas em tecnologia B2B, IA e tendências do mercado de trabalho. Seu objetivo era direto: identificar quais profissões cresceram ou encolheram entre 2024 e 2025 — e onde a IA já começa a provocar mudanças reais.
Chiu avaliou oportunidades publicadas entre janeiro de 2023 e outubro de 2025. Ele destaca que nem todos os anúncios representam processos seletivos reais, mas isso não compromete a pesquisa, já que a intenção era medir a variação relativa entre diferentes cargos.
Apesar do medo global de substituição em massa por máquinas, os dados não mostram um salto no desemprego. O que aparece é uma queda concentrada em funções específicas — sobretudo nas áreas criativas — onde a IA tem se mostrado especialmente competitiva.
Entre as carreiras mais impactadas estão:
• Artistas de computação gráfica: –32,7%
• Fotógrafos: –28,1%
• Redatores: –27,9%
Outros cargos também registraram retração acima da média, como especialistas em compliance (–29,2%), profissionais de sustentabilidade (–27,6%), jornalistas (–21,8%) e videomakers (–14,1%). Para Chiu, a tendência é clara: trabalhos baseados em criação visual ou escrita enfrentam pressão direta de ferramentas de IA que geram conteúdo em segundos.
“O estudo não mostra quedas dramáticas na maior parte dos cargos, mas também não dá para ignorar que a IA está afetando o mercado. Ela está atingindo com força alguns trabalhos criativos”, afirma. Ele ressalta que dois anos de dados ainda não definem um cenário absoluto, mas o movimento observado inspira cautela nesses setores.
Por outro lado, algumas profissões mostram resiliência justamente por dependerem de habilidades humanas difíceis de automatizar — como empatia, raciocínio estratégico e resolução de problemas complexos. Nessas áreas, a demanda não apenas se mantém como cresce.
As carreiras em expansão incluem:
• Farmacêuticos: +13,5%
• Agentes de crédito imobiliário: +14,4%
• Diretores jurídicos: +20,6%
• Engenheiros de machine learning: +39,6%
O último caso é autoexplicativo: quanto mais a IA evolui, maior a necessidade de profissionais capacitados para criá-la, treiná-la e supervisioná-la.
Chiu conclui que a inteligência artificial não age de forma uniforme. Em alguns setores, reduz a demanda; em outros, impulsiona adaptações ou cria funções inteiramente novas. Muitos empregos podem não desaparecer, mas certamente mudarão conforme ferramentas automatizadas se tornam parte do cotidiano profissional.
Com o ritmo acelerado da tecnologia, fica claro que certas áreas sentirão o impacto antes das outras. Ainda assim, o estudo mostra que o mercado de trabalho global está longe de um colapso provocado pela IA. Algumas funções encolhem, outras se reinventam — e várias continuam em pleno crescimento, dependendo do tipo de habilidade humana envolvida.
