Fabio Assunção deu a volta por cima literalmente neste período de quarentena. O ator que hoje é adepto de um estilo de vida bastante saudável com exercícios regulares e alimentação balanceada, esta com 27 quilos a menos. A mudança no estilo de vida de Fabio, de 48 anos começou com exercício e dieta rigorosa como preparação para a série “Fim”, interrompida por causa da pandemia. Mas refletiu na realidade dele, que parou de beber e transformou os hábitos alimentares.
O resultado é um físico de atleta que virou assunto nas redes sociais. No Twitter, internautas fizeram campanha para que a imagem do ator “sóbrio e sarado” viralizasse, e o assunto chegou a ficar entre o mais comentados da rede. No entanto, a maior transformação foi interna, segundo entrevista desta segunda-feira (3) ao jornal “O Globo”:
— Minha cabeça está melhor, penso com mais clareza e me sinto mais leve com as questões que deixei para trás. Estou em paz e no controle da minha vida — diz ele, que se iniciou no ifismo (filosofia religiosa africana, baseada na leitura do Ifá e no culto aos orixás) e aproveita a quarentena para estudar iorubá, direitos humanos e história da política brasileira.
No ar na reprise da novela “Totalmente demais” (e na série “Tapas & beijos” a partir do dia 4), Fabio comentou também como tem sido esse período em que se recomenda o distanciamento social.
Confira abaixo alguns trechos da entrevista:
Essa transformação, que começou por conta de um trabalho, foi bem-vinda na sua vida pessoal, né?
Fabio Assunção: É interessante como tudo foi casando. Mas preciso fazer um aparte: Tem gente que acha que tomei bomba, anabolizante. Isso é mentira! Foi um trabalho coordenado pelo Chico Salgado para a série “Fim”. Eu tinha que ir de 97 quilos para 78. Aí cheguei nos 69kg. Perdi 27kg sem química, só com alimentação.
Foram cinco meses de um trabalho natural e disciplinado. Começou com exercício aeróbico e alimentação cuidada. Só de desintoxicação carbogênica foram 38 dias. À noite, só tomo uma sopa. Neste momento, trabalho o ganho de massa muscular, como o dobro que estava comendo. Isso me trouxe leveza corporal. A minha relação com o alimento mudou. Abri mão de pão, pizza, de muita coisa gostosa. Mas acabei pegando gosto pelos alimentos verdes.
Podemos dizer que surge um novo Fabio pós-quarentena?
Fabio Assunção: Sem dúvida. Meus hábitos e meus horários mudaram. Essa leveza acelerou meu metabolismo, estou pensando com mais clareza. Esse Fabio está percebendo coisas que não apreciava antes. Estou voltado para o que está acontecendo hoje, sorridente, pensando “eu existo”, estou em paz, no controle da minha vida e vendo para onde o mundo está indo. São tantas notícias contraditórias.
Estou neste momento de observação, conquistado com muita alegria, seguindo o fluxo do mundo. Me sinto bem, aproveito o momento pelo lado positivo e tento acreditar que os ganhos dessa paralisação serão maiores e mais relevantes do que uma vacina nova.
A cultura também está tendo que se reinventar. Que transformações definitivas enxerga?
Fabio Assunção: O Brasil está com a cultura desestruturada. Os esforços feitos pelo legislativo, fundos emergenciais e artistas se reinventando com lives, além de cursos on line são as coisas mais incríveis. Não sei o que virá, mas admiro como a arte sobrevive através da história, se adaptando aos obstáculos, às dificuldades, no meio da política. A gente já teve fases de censura, de uma economia ruim, agora estamos na pandemia. E ela sempre encontra uma forma de trocar com as pessoas, ela se adapta. Vejo colegas encontrando novas possibilidades e se realizando.
Como está sendo a convivência com os filhos, João e Ella, na quarentena?
Fabio Assunção: Minha filha veio algumas vezes, e meu filho está aqui há um mês. João sempre vinha com uma data de retorno para São Paulo, onde mora com a mãe. Desta vez, veio sem prazo de validade. Eu sempre me preocupava em criar uma programação, aí a gente descobriu que apenas conviver, com independência e liberdade, já é uma grande expressão de amor. Posso estar na sala lendo um livro ou tocando violão, e ele está jogando videogame. A gente se achou convivendo dessa forma pela primeira vez.
Aos 48 anos, qual é o maior aprendizado que a maturidade te trouxe?
Fabio Assunção: Não sei. Esse é um ano que vem sendo construído há um tempo. Essa parada do mundo me deu tempo também para olhar dentro de mim. Juntar saúde, alimentação, espiritualidade, uma cabeça mais tranquila. Trouxe silêncio, paz. Não no sentido de estagnação. Tem uma música da Bethânia chamada “Carta de amor”, que fala: “Eu sou haste fina que se enverga com o vento, mas que nem o machado corta”. Acho isso lindo, porque eu me sinto muito flexível. Me sinto preparado para o que vem por aí e estou vivendo o presente.
Você sempre foi muito bonito. Como lida com o envelhecimento?
Fabio Assunção: Acho ótimo. Às vezes, quando querem me elogiar, falam: “Nossa, mas você não envelhece com o tempo”. Penso o contrário, acho a velhice uma conquista. Quem não quer ter 90? Só quem quer morrer agora… Vamos saudar os velhos do Brasil, eles têm sabedoria. Tem o lado estético, mas eu acho lindo as marcas do tempo no rosto da gente.
Muitas atrizes reclamam que, à medida em que envelhecem, os bons papeis rareiam. Isso também acontece com os atores?
Fabio Assunção: É uma questão de roteiristas escreverem obras para as pessoas mais velhas. No teatro, por exemplo… “Quem tem medo de Virgínia Woolf” não pode ser feito por um ator de 30 anos. Existem personagens para pessoas mais jovens e para pessoas mais velhas.
Em relação às atrizes, acha que o aumento de mulheres nas funções de roteirista e diretora tem ajudado a transformar o cenário?
Fabio Assunção: Evoluir é isso. Não dá para consumir apenas produtos culturais de pessoas que acabaram de aparecer e estão fazendo sucesso. Tem que respeitar quem está chegando, mas isso não anula a experiência de um ator de 70, 90, anos. Nossa maior atriz é a Fernanda Montenegro, com sua integridade, dignidade, lutando politicamente pela cultura, brilhando a cada trabalho. Há outros atores dessa geração que estão invisíveis. Precisa haver uma conscientização da sociedade de não só valorizar o pop, o que está na moda, o novo, mas a nossa história.
Em meio à quarta onda feminista que vivemos, qual é o papel do homem contemporâneo?
Fabio Assunção: Escutar. Sou da teoria de que a mulher tem que tomar o poder. E governar esse mundo, porque a gente fracassou completamente. Brinco que quero obedecer, receber ordens. Quero que as mulheres se apropriem. Inclusive, há uma estatística que mostra que os países liderados por mulheres tiveram maior avanço contra a pandemia. Então…