Vacina contra Covid-19 não afeta fertilidade nem ataca a placenta, afirmam especialistas

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Muitos boatos e notícias falsas sobre os efeitos da vacinas contra a Covid-19 levam dúvidas à milhões de cidadãos e uma delas, em particular, as futuras mamães.

Falsas alegações sobre a vacina contra o novo coronavírus e seu impacto na placenta e na fertilidade viraram discussão em redes sociais do Reino Unido; médicas ouvidas pela BBC explicam por que as teorias não fazem sentido.

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São infundadas as alegações, espalhadas nas redes sociais, de que as vacinas contra a Covid-19, como a da Pfizer, poderiam afetar a fertilidade feminina, explicam especialistas.

As notícias falsas difundiam a ideia de que a vacina deixaria as mulheres inférteis ou faria seus próprios corpos atacarem a placenta.

Mas não há nenhum “mecanismo biológico plausível” pelo qual uma vacina poderia afetar a fertilidade, explica Lucy Chappell, professora de Obstetrícia da Universidade King’s College, em Londres, e porta-voz do Royal College de Obstetras e Ginecologistas britânicos.

A vacina da Pfizer funciona de modo a mandar uma mensagem para o corpo, permitindo-o fabricar um pequeno (e inofensivo) fragmento da proteína “spike” do coronavírus. Esse processo ativa o sistema imunológico, produzindo anticorpos e células brancas para combater o vírus ? e fazendo-o ser capaz de reconhecer novamente esse vírus caso ele volte a entrar no corpo.

A vacina não tem nem a capacidade de transmitir o vírus, nem de alterar a composição genética do corpo. As “partículas mensageiras” levadas pela vacina também têm vida muito curta: entregam a “mensagem” e são destruídas. É por isso que a vacina da Pfizer, em particular, precisa ser armazenada com tanto cuidado: seu material genético se desintegra (e se torna inútil) muito facilmente. Não há nenhuma forma como esse processo pode impactar a saúde reprodutiva feminina, reforça Nicola Stonehouse, virologista da Universidade de Leeds.

Boatos
A confusão em torno do assunto começou nas redes sociais quando uma versão anterior das diretrizes do governo britânico dizia que era “desconhecido” se a vacina da Pfizer teria um impacto na fertilidade. Essa diretriz foi desde então atualizada, para esclarecer que estudos com animais não indicam nenhum efeito nocivo sobre o sistema reprodutivo.

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Falsas alegações envolvendo a placenta
Algumas postagens sugeriram, erroneamente, que a vacina poderia afetar a fertilidade porque contém proteínas também usadas para fazer a placenta, o que levaria o corpo a atacar sua própria placenta.

Porém, essas alegações são falsas. Embora a vacina contenha uma proteína que tem uma leve semelhança com a usada pelo corpo para desenvolver a placenta, essa semelhança não é capaz de confundir o corpo humano.

Vacinas são projetadas em torno das partes mais características da “spike” do vírus, para garantir que elas sejam capazes de fazer o corpo reconhecer apenas o vírus. O fato de haver uma pequena semelhança entre as proteínas “não significa nada”, explica Chappell, uma vez que há diversas proteínas semelhantes em diferentes seres da natureza.

Chappell, especializada em saúde gestacional e fertilidade feminina, afirma não ter nenhuma preocupação sobre o impacto das vacinas na vida fértil de mulheres. “Eu nunca ouvi falar de nenhuma vacina afetar fertilidade”, agregou Jonathan Van-Tam, vice-chefe médico da Inglaterra. O boato é apenas “uma história perniciosa criada para asustar”.

E vacinação durante a gravidez?
Para mulheres já grávidas, porém, cientistas têm destacado que os efeitos das vacinas existentes contra o coronavírus ainda não foram testados nesse grupo. Até o momento, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já publicou recomendações sobre as vacinas oferecidas pela Pfizer-BioNTech e Moderna, e não aconselha que grávidas sejam vacinadas.

Mas o alerta se baseia exclusivamente na falta de dados, e não em evidências de que tomar a injeção possa causar prejuízos à saúde da gestante e do bebê. Ainda assim, quando uma mulher grávida tem um alto risco inevitável de exposição ao coronavírus, como no caso de uma profissional de saúde, ou tem comorbidades, a OMS diz que “a vacinação pode ser considerada se discutida com seu médico”. A OMS também aponta para os riscos de contrair covid-19 durante a gravidez.

“Mulheres grávidas correm maior risco de desenvolver sintomas graves de covid-19 do que mulheres não grávidas, e a doença foi associada a um risco aumentado de parto prematuro”, diz a entidade. No Brasil, o Ministério da Saúde lembra que “a segurança e eficácia das vacinas não foram avaliadas nos grupos de gestantes”.

A pasta recomenda que “para as mulheres, pertencentes a um dos grupos prioritários, que se apresentem nestas condições, a vacinação poderá ser realizada após avaliação cautelosa dos riscos e benefícios e com decisão compartilhada, entre a mulher e o médico prescritor”. Já no caso de mulheres que estão amamentando, as evidências têm indicado que o risco de efeitos colaterais da vacina é muito baixo, sugerindo que essas mulheres poderiam ser vacinadas.

Conteúdo de fact-checking do PaiPee.