A população de jumentos no Brasil caiu 94% em menos de 30 anos, segundo estimativas da Frente Nacional de Defesa dos Jumentos. De 1,37 milhão de animais em 1996, restam hoje pouco mais de 78 mil. A principal causa é a demanda da China pelo colágeno encontrado na pele do animal, utilizado na produção do ejiao, um produto sem comprovação científica popular na medicina tradicional chinesa.
Mantido o ritmo atual de abates, a espécie pode desaparecer do território nacional antes de 2030, conforme alertam pesquisadores reunidos nesta semana em Maceió (AL), no evento “Jumentos do Brasil”. Eles defendem a aprovação do projeto de lei 1.973/2022, que propõe a proibição do abate em todo o país e está parado no Congresso.
No Brasil, três frigoríficos localizados na Bahia possuem autorização do Serviço de Inspeção Federal para abater jumentos. Para cientistas, a atividade é extrativista, sem cadeia produtiva estruturada, e ocorre sem rastreabilidade ou controle sanitário adequado. “Produzir jumento para abate não é rentável, é extrativismo mesmo”, afirma Pierre Barnabé Escodro, professor da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).
Um estudo publicado em maio na revista científica Animals identificou sinais de inflamação sistêmica em 104 jumentos abandonados e destinados ao abate, evidenciando falhas graves no cuidado com os animais. Em 2022, a Assembleia Legislativa da Bahia chegou a discutir a proibição do abate no estado, mas o parecer do relator foi contrário. Segundo o deputado Paulo Câmara (PSDB), a atividade seria regulamentada e economicamente relevante, o que gerou nota de repúdio de entidades de conservação.
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Enquanto isso, a escassez tem encarecido o valor dos animais. No interior de Alagoas, jumentos que antes eram vendidos por R$ 100 agora chegam a R$ 500. Já a pele, principal alvo da indústria de ejiao, pode alcançar até US$ 4 mil no mercado internacional. Estima-se que 5,9 milhões de jumentos sejam abatidos por ano no mundo, movimentando mais de US$ 6 bilhões, de acordo com a organização The Donkey Sanctuary.
O impacto vai além da biodiversidade. Pesquisa da Universidade Maasai Mara (Quênia) mostrou que o roubo desses animais afeta diretamente comunidades rurais, especialmente mulheres, que dependem deles para atividades básicas. O desaparecimento dos jumentos também compromete a renda familiar em diversas regiões.
Diante da ameaça, especialistas discutem medidas para preservar os animais, como a criação de áreas de conservação e santuários, como os já existentes no Ceará. Em Santa Quitéria, por exemplo, uma fazenda do Detran abriga mais de 1,2 mil jumentos.
“Isso fortaleceria o combate à extinção no médio prazo”, afirma Escodro, que também defende a reintegração dos jumentos em práticas como agricultura familiar, pastoreio e terapias assistidas.
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