Conheça os mitos e verdades sobre a atual batalha política e comercial dos agrotóxicos

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A ministra da Agricultura Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, destacou esta semana que as críticas que vêm sendo feitas às autorizações dadas por sua pasta para o registro de agrotóxicos no país estão se transformando em “guerra política”, no âmbito nacional, com potencial de resultar, no âmbito internacional, em “guerra comercial”.

Em um esforço para transmitir que os alimentos brasileiros são “absolutamente seguros” do ponto de vista de possíveis contaminações por agrotóxicos, a Ministra da Agricultura,  disse que nenhum dos 262 novos produtos registrados pelo governo do início de janeiro ao dia 22 de julho começou a ser analisado neste ano. E indicou que o volume de registros continuará a aumentar até dezembro. No mesmo período de 2018, foram 234 registros.

Segundo Tereza Cristina, as autorizações concedidas para uso de novos agrotóxicos são um “risco calculado” similar ao que ocorre em outros países. “Ninguém está colocando veneno no prato do consumidor brasileiro”, afirmou a ministra.

Entenda abaixo o que é mito e verdade sobre os pontos apresentados pela ministra da Agricultura Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina

“O Brasil é o único país que tem uma lei segundo a qual não se pode aprovar nenhum registro mais tóxico ou igual ao que já existe no mercado [de agrotóxicos]”, disse Tereza Cristina.

“Estamos incomodados com o fato de o tema ser transformado, aqui dentro, em guerra política e, lá fora, em guerra comercial”, disse a ministra.

“Tenho preocupação com o fato de passarmos imagens que resultarão em questionamentos no exterior. Se há, aqui dentro, dúvidas, por que lá fora não haveria?”, acrescentou, ao defender “unidade, não de pensamento, mas nos números” que são dovulgados .

“Nós não liberamos agrotóxicos. Nós concedemos registros para a produção industrial de formulados. E nem sempre a indústria coloca à venda, porque nem sempre há interesse. Prova disso é que 48% dos produtos formulados autorizados não foram comercializados”.

Também em tom crítico a matérias jornalísticas, o pesquisador da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Caio Carbonari citou informações que considera sem sentido de que o Brasil seria o país que mais usa defensivos agrícolas. “Não faz sentido essa comparação [em termos absolutos] assim como não faria sentido dizer que São Paulo [a maior cidade do país] tem número maior de acidentes de trânsito do que [uma cidade de muito menor porte como] Boitucatu”, disse Carbonari.

De acordo com o pesquisador, a comparação deveria ser feita levando em conta o volume de defensivo aplicado por área, e não em termos absolutos. “Se normalizarmos os dados dessa forma, cairíamos para a sétima posição, atrás de Japão, Coreia, Alemanha, Itália, França e Reino Unido. E, se for por tonelada produzida, cairíamos para 13º lugar.”

Além do mais, é inadequado comparar a agricultura de países de clima tropical com a países de clima temperado, onde a baixa temperatura dificulta a ocorrência de determinadas pragas, acrescentou.

Carbonari argumentou que, dos 32 novos ingredientes que, há cerca de um mês, estavam na fila para registro no Brasil, 29 já são usados em países como os integrantes da União Europeia (que usa 16 dos 32 novos ingredientes a serem analisados pelas autoridades brasileiras), Estados Unidos (19 dos 32), Canadá (19), Austrália (18), Japão (17) e Argentina (15).

Uso cada vez mais reduzido

“Entre 2002 e 2015 houve uma redução de 51,91% do risco por hectare, para trabalhadores. Além disso, a quantidade de agrotóxicos usados por hectare no início dos anos 2000 corresponde a apenas 12% do que era aplicado na década de 70. Não se trata de produtos mais concentrados, e sim do ingrediente ativo usado”, disse Carbonari.

Ele lembrou que a evolução da produtividade – crescimento da produção em proporção bem maior do que o aumento da área plantada – foi conseguida com ciência, tecnologia e inovação, o que inclui, também, defensivos agrícolas. “O impacto do agronegócio na balança comercial não seria tão grande se utilizássemos produtos contaminados”, afirmou.

Uma das críticas pontuais foi apresentada pelo diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Renato Porto, e é relativa à divulgação, pelo Instituto Butantã, daqueles que seriam os 10 produtos agrotóxicos mais usados no Brasil. “Dos dez produtos citados pelo instituto, sete são autorizados em todo o mundo. Dos três restantes, um nunca foi autorizado; um foi proibido em 2017; e um foi permitido em 2013, mas com restrições.”