A decisão que colocou o empresário Daniel Vorcaro em liberdade reacendeu um passado polêmico envolvendo a desembargadora responsável, Solange Salgado. Documentos e reportagens recuperadas nesta semana mostram que, entre 2000 e 2009, quando presidia a Associação dos Juízes Federais da 1ª Região (Ajufer), a magistrada foi investigada por suposto envolvimento em um esquema milionário de fraudes. O detalhe que mais chama atenção agora: ela foi defendida exatamente pelo mesmo advogado que hoje representa Vorcaro, Pierpaolo Cruz Bottini.
Na época, Solange Salgado foi acusada de participar de um esquema de empréstimos fraudulentos envolvendo a Fundação Habitacional do Exército (Poupex), o qual teria causado um rombo superior a R$ 20 milhões. Apesar do barulho e da repercussão, todas as acusações acabaram arquivadas em 2012 por falta de provas diretas de sua participação. O caso ficou adormecido — até agora.
Com a prisão de Daniel Vorcaro e o pedido de habeas corpus analisado pela magistrada, a coincidência explodiu nas redes sociais e nos bastidores jurídicos. Internautas, jornalistas e até parlamentares apontam possível conflito de interesses, alegando que a relação prévia entre a desembargadora e o advogado reabre questionamentos sobre independência e imparcialidade judicial.
A decisão favorável a Vorcaro, tomada em meio a um cenário nacional de grande repercussão, intensificou as críticas. Especialistas em direito afirmam que não há impedimento automático quando um magistrado já foi defendido por um advogado no passado, mas reconhecem que a situação é “eticamente sensível” e pode afetar a credibilidade institucional. Para a opinião pública, porém, a narrativa ganhou contornos de escândalo.
Nos bastidores de Brasília, a informação teria causado desconforto em setores do Judiciário. Fontes afirmam que o episódio reacende discussões sobre transparência, impedimentos e declarações de vínculos pré-existentes que possam comprometer a confiança no sistema judicial.
Enquanto isso, o caso Vorcaro segue em análise, e a relação histórica entre magistrada e defesa se transforma no elemento mais debatido do momento. Para muitos, a coincidência é grande demais para ser ignorada; para outros, trata-se apenas de um passado distante sendo usado para inflamar a opinião pública. O país assiste, mais uma vez, a um embate entre justiça, política e percepção popular.
