É #FAKE teor de advertências de ex-executivo da Pfizer sobre vacinação contra Covid-19

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Circula pelas redes sociais um vídeo com a legenda: “Ex-presidente da Pfizer adverte contra a vacinação em massa. (Foto: Youtube)

Circula pelas redes sociais um vídeo com mais de 340.000 visualizações até a manhã desta terça-feira (19) com a legenda: “Ex-presidente da Pfizer adverte contra a vacinação em massa.” No vídeo, um homem lê em português um texto a respeito das teorias de Michael Yeadon, ex-vice-presidente da Pfizer da área de pesquisa em alergia e respiração. Entre elas, está a de que a pandemia acabou no Reino Unido e que, como “os vírus não ocorrem em ondas, a política do governo de usar lockdowns para combater a crise não se justifica mais. O teor das informações do vídeo são porém, falsas.

Procurada, a Pfizer declarou que não faz comentários. “Encorajamos o público a buscar informações sobre a pandemia COVID-19 junto a órgãos de saúde pública de confiança e / ou seus provedores de saúde individuais.”

Teorias de Michael Yeadon, ex-vice-presidente da área de pesquisa em alergia e respiração da Pfizer, foram refutadas por especialistas e agências de checagem. (Foto: Twitter)

Yeadon deu declarações controversas em um artigo no site lockdownsceptics.org, ao programa de rádio de James Delingpole, e em carta aberta no Twitter ao secretário de Saúde britânico Matt Hancock. As alegações que ele fez foram checados e refutadas por jornais e agências de checagem.

A afirmação que a epidemia já acabou no Reino Unido já desmoraliza todo o resto”, diz o infectologista Renato Grinbaum. (Foto: Facebook)

Especialistas ouvidos pelo PaiPee também contraporam as afirmações de Yeadon. “Muito bizarro. A afirmação que a epidemia já acabou no Reino Unido já desmoraliza todo o resto”, diz o infectologista Renato Grinbaum. De fato, o Reino Unido teve recorde de mortes diárias por Covid e os hospitais de Londres estão no limite.

A ideia de que a população suscetível no Reino Unido é pequena e que a população imune é grande o suficiente para que não haja o mais surtos grandes da doença em nível nacional, é contestado com fatos pelo virologista Rômulo Neris, doutorando da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

“Importante considerar que ele diz que a população alcançou um nível de imunidade para que não haja mais surto a nível nacional no Reino Unido, mas exatamente nos últimos dois meses o Reino Unido passou por um aumento de casos abrupto principalmente associado à inserção de uma nova variante, mas mesmo antes dessa variante eles já mostravam reversão de tendência, pelo menos desde o início de setembro, com aumento no número de casos.”

Em outro momento, o texto afirma ainda que “os vírus não ocorrem em ondas” e que a política do governo de usar lockdowns para combater a crise não se justifica mais. Neris deixa claro que essa informação é falsa.

“É interessante considerar que epidemias acontecem com uma distribuição de casos seguindo um modelo de onda”, diz Neris. “Quando você distribui os casos diagnosticados ao longo do tempo, você vai ver que a distribuição na maioria das vezes é muito parecida com um perfil de onda mesmo.”

O texto diz que há “muitas pessoas com imunidade pré-existente” diante dos resultados dos estudos com células T de memória que puderam detectar o COVID-19 em pessoas que nunca tiveram a doença.

Neris diz que ainda não há resposta definitiva para a tese de que pessoas que são imunes ao novo coronavírus por terem sido infectadas por outros coronavírus, como os que causam resfriado, ao longo da vida.

“A gente ainda não tem uma resposta definitiva para isso. Isso ainda é uma área cinza que a gente está tentando entender melhor. Primeiro, porque em teoria uma infecção prévia por um outro coronavírus poderia sim, conferir algum grau de proteção. Entretanto, os coronavírus que causam resfriado têm diferenças grandes o suficiente para que resposta contra o Sars-Cov2 não seja tão robusta. Além disso, a imunidade contra coronavírus que causam resfriado é temporária, é de curta duração, exatamente porque esses vírus causam uma infecção muito branda e muito limitada. Então, mesmo indivíduos que tiveram resfriado, se tivessem imunizados, estariam em princípio só por uma janela de tempo bem pequena.”, concluiu.

Conteúdo de fact-checking do PaiPee.