É fato que estudos estimam que isolamento social já salvou milhões de vidas durante a pandemia

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Dois estudos publicados na última semana na revista Nature mostraram a importância das medidas de lockdown e isolamento social na contenção da pandemia de Covid-19. A partir de projeções matemáticas, pesquisadores dos Estados Unidos e do Reino Unido concluíram que as políticas de isolamento implementadas em diferentes países do mundo salvaram milhões de vidas. Contudo, os estudos trazem um alerta para países como o Brasil, que ainda não conseguiram frear a onda de contágios: a suspensão precoce dessas restrições pode trazer riscos.

Uma das pesquisas, feita pelo Imperial College London, no Reino Unido, avaliou o impacto das intervenções chamadas não-farmacêuticas (lockdown, distanciamento, isolamento, entre outros) em 11 países europeus (Áustria, Bélgica, Reino Unido, Dinamarca, França, Alemanha, Itália, Noruega, Espanha, Suécia e Suíça) no período entre o início da pandemia e o dia 4 de maio, quando os bloqueios começaram a ser flexibilizados. Eles calcularam, inicialmente, a taxa estimada de mortes e contaminados para os meses seguintes caso não fossem adotadas medidas de isolamento. Depois, avaliaram o número efetivo de mortos registrado e compararam ao modelo sem restrições. Descobriram que cerca de 3,1 milhões de mortes foram evitadas nos países que adotaram estratégias de distanciamento social.

De acordo com a avaliação dos especialistas, nestes locais, as diferentes políticas públicas adotadas foram eficazes para reduzir a taxa de contágio, mantendo o valor R abaixo de 1. Este é o número médio de pessoas que um infectado pode contaminar. Quando ele fica acima de 1, as taxas de contaminação podem crescer exponencialmente. Na Suécia, país que tomou medidas mais brandas de distanciamento social, o número de mortes evitadas foi menor que nos demais países.

Na conclusão do estudo, os autores alertam que os dados compilados sobre óbitos podem estar subestimados, já que a pandemia segue em curso. No entanto, indicam que o estudo já oferece um panorama importante sobre o efeito das medidas restritivas. Os pesquisadores estimam que as políticas públicas reduziram em até 81% a taxa de transmissão do vírus. Contudo, os pesquisadores alertam que o movimento de flexibilização do distanciamento social deve ser feito com cuidado. Caso contrário, é possível que haja uma segunda onda da pandemia.

O outro estudo, realizado na Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, analisou como a velocidade do contágio mudou a partir da implementação de restrições locais, regionais e nacionais em seis países: Estados Unidos, China, Coreia do Sul, Itália, Irã e França. “Na ausência de ações políticas, estimamos que as infecções precoces exibiam taxas de crescimento exponencial de aproximadamente 38% ao dia”, explicam os autores. A partir dos pacotes de restrições, essas taxas foram caindo de forma gradual nos diferentes países, impedindo ou retardando o contágio de até 62 milhões de pessoas. “Algumas medidas têm impactos diferentes em populações diferentes, mas obtivemos evidência consistente de que os pacotes de políticas públicas implementados geraram importantes resultados”, dizem os autores. Eles complementam ainda que essas informações podem ajudar os outros 180 países a definir quando, como e por quanto tempo as restrições devem ser implantadas.

Conteúdo de fact-checking do Pipeify.